sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma maldição chamada escola!



                        Apesar dos altos índices de homicídio e do número monstruoso de mortos em acidentes de trânsito, o “Massacre de Realengo” causou, e continua causando, uma comoção nacional. Em parte porque eram adolescentes, um pouco crianças, mas também porque ocorreu dentro de uma instituição considerada sagrada pela sociedade contemporânea, a escola. Frente a confusão que um ato desse tipo proporciona nas cabeças das pessoas, oportunistas, independente da estirpe, se aproveitam do momento para destilar suas teorias e tentar ganhar uma lasca de atenção. Até religiosos desconsideram que suas teses auxiliaram na formação do fanatismo religioso do atirador e surgem, ou ressurgem, a fim de mostrar um conceito adequado de deus. Oras! Como sou tão oportunista quanto todos que se propõe a dizer besteiras, não poderia deixar de passar esse momento! E digo! Minha solução para evitar futuros fatos como o ocorrido em Realengo é muito simples e pouco oneroso. Somente o aluguel de pá-carregadeiras e alguns guindastes com bola de aríete. Enfim! Destruam as escolas e mandem boa parte dos professores procurarem outro emprego, mesmo porque, com a falta de capacidade intelectual e o salário que ganham seria o melhor para a maioria.
                         Já que no futuro serei obrigado (no sentido forte do termo) a colocar meu filho num desses lixos chamado de escola e a possibilidade dele emburrecer começará a aumentar exponencialmente, estou aproveitando para me divertir bastante com ele atualmente, ou seja, não vou ficar perdendo meu tempo pensando e escrevendo sobre a escola e a pedagogia. Mas deixo com vocês um artigo da Dra. Enriqueta Di Lucchi, publicado na Revista Víbora n.º 04, sobre as teorias do Prof. John Holt. Quem se interessar em ler seus artigos, é possível encontrá-los na Web, mas, infelizmente, estão em inglês. Em relação ao artigo postado só faço uma ressalvo ao último tópico sobre uma utopia escolar. Não sei se funcionaria, mas como a própria doutora afirma, é só uma utopia. Sobre o restante do artigo, estou totalmente de acordo.






terça-feira, 22 de março de 2011

Amigos, acabo de descobrir o meu problema: chama-se MoDeD, ou  “Distúrbio de Deficiência Motivacional”. Ao entrar em um fórum sobre psiquiatria e sugerir a leitura desse blog vil, um padreco da ciência... ops!... um psiquiatra, após ler a postagem sobre as empresas, afirmou que sou possuidor da doença citada. Disse que escrevo contra as empresas para justificar minha preguiça e, consequentemente, o trabalho medíocre que sou obrigado a exercer todo dia. Seria uma mistura da MoDeD com falta de auto-crítica e mau-caratismo? E mais, sem perder tempo, pois tempo é dinheiro, prescreveu um psicotrópico e me deu o telefone de quem poderia importá-lo, pois, infelizmente, por falta de uma campanha eficiente do governo para alertar a população sobre essa terrível doença, esse remédio ainda não é produzido no Brasil. Enquanto tento me motivar a trabalhar dia após dia até a morte, a escrever mais algumas coisas que ninguém irá ler e voltar ao fórum para mandar esses padrecos... ops!... psiquiatras para um merecido lugar, deixo este documentário sobre minha terrível doença. 


 

domingo, 20 de março de 2011

Obrigado Deus, pelas boas empresas que melhoram meu viver!

          Estava fazendo algumas pesquisas na internet e acessei um blog criado especialmente para publicar os artigos e textos de Luiz Felipe Pondé, para quem não conhece, um filósofo acadêmico crítico das grandes crenças, mas que defende algumas quando exerce a função de filósofo midiático. Fiquei surpreendido com o fato de alguém ter o trabalho de criar um blog para postar algo que não é seu, ao invés de escrever seus próprios artigos, mas isso me deixou intrigado e me levou a tentar olhar com um pouco mais de atenção os escritos de Pondé, pois, o que eu lera até o momento não tinha desencadeado um mínimo de interesse. Acabei acessando um debate entre Pondé e Marcos Nobre (filósofo da Unicamp que pratica o feijão com arroz da esquerda acadêmica) cujo tema era os conceitos políticos de direita e esquerda. Chamou-me a atenção algumas afirmações de Pondé: primeiro, “uma sociedade de direita é a que valoriza a liberdade individual, em que o governo não se lance a dirigir gestos, palavras e visões de mundo” e segundo, “tenho mais medo do Estado do que de uma empresa”. A primeira afirmação parece de um político em campanha, mas Pondé gosta de elaborar discursos polêmicos a fim de parecer um pensador que foge dos padrões politicamente correto e ao mesmo tempo continuar com o salário da mídia que lhe paga. Crítico ferrenho dos valores culturais e conservador no âmbito político-econômico, não é muito original para um leitor de Nietzsche, pelo menos Pondé não se dá ao trabalho de plagiá-lo, apesar de criticar a religião tenta salvar Deus dos ataques de ateus, enfim, jamais afirmaria que Deus está morto. Mas voltando a suas afirmações, Pondé pode argumentar, por ser um pensador trágico, que a grande tragédia é reconhecer que a direita é melhor que a esquerda. Puxa! Que sagaz! Mais adiante ele cita uma afirmação de Mario Vargas Llosa: a esquerda levou historicamente uma surra na economia, mas controla a cultura. Tentativa de desqualificar totalmente o pensamento de esquerda, afinal, se não há uma explicação para a vida na qual vivemos, se não conseguimos elaborar um modo de viver que concilie nossas aspirações com a contingência é porque a visão de mundo que tenta propor essa conciliação é equivocada, e essa visão é da esquerda. Primeiro, quando ele, como Vargas Llosa, fala que a esquerda controla a cultura, estão se referindo especificamente ao marxismo, e, segundo, isso é uma grande asneira. Claro caro Pondé, podemos ouvir nos telejornais, nas novelas, no Big Brother, a todo instante pessoas dizendo em “greve”, “exploração”, “proletário”, “mais-valia”, entre outros conceitos do marxismo. Tirando Cuba e segmentos das universidades públicas dos países latino-americanos o marxismo é uma página virada da história, como, desconfio, no restante do mundo ocidental também, mas isso é outra história que pretendo prolongar em outro momento. Mas Pondé se apega especificamente aos segmentos marxistas das universidades públicas para fazer sua afirmação e, consequentemente, trampolim para seu discurso em defesa da direita.
        Realmente é verdade: um regime de direita liberal dificilmente utilizará suas instituições políticas para obrigar, no sentido forte,  pessoas a terem uma visão de mundo, contudo, tal regime também não desmonta o aparato jurídico-policial, apesar de todo discurso em defesa da liberdade. São utilizadas como instituições reguladoras da ordem vigente, mas continuam com os instrumentos necessários para uma intervenção na sociedade a fim de impor uma visão de mundo. Mas quando isso ocorre o regime deixa de ser de direita liberal e passa a ser de direita autoritário, e como mostra a história, no momento de impasse geralmente os liberais se abstêm de definir as diretrizes da ação política, deixando o jogo sujo aos autoritários, refugiando-se nas redações de jornais para escrever artigos sobre a importância da liberdade de imprensa e defesa dos direitos civis e aguardando o momento apropriado para retornar aos antigos postos na máquina do poder. Os autoritários aproveitam-se de um processo de desequilíbrio de forças, geralmente motivado por um conflito na forma de administração do Estado, centralizam as instituições políticas, e utilizam-nas para intervir na visão de mundo e acabar com as divergências. Os liberais saem de cena, pois o autoritarismo de direita não é um bicho de sete cabeças, seria a de esquerda, já que a administração do Estado em relação à economia continua muito parecida. Muda o uso do aparato jurídico-policial, e quando Pondé diz ter medo do Estado, o que lhe causa preocupação é essa forma de administrar utilizando-se da violência, e que na vias de fato pode chegar ao extermínio físico. Ocorre o evidente problema de ascensão de algum ditador (ou militares, se preferirem) cuja visão de mundo pode remeter à religiosidade, militarismo, ou qualquer outra loucura que diminua a eficácia da clássica “mão invisível do mercado”, e, lógico, aumentando o risco de respingar atos de coerção nos próprios liberais quando estes endurecem na crítica ao perceberem que o controle das instituições pode se prolongar além do aceitável. Enfim, Pondé sabe que um governo de direita pode dirigir gestos, palavras e visões de mundo, mas para não precisar entrar em detalhes sobre a diferença entre liberais e autoritários cita as empresas como contraponto ao Estado, sugerindo a relação Estado-esquerda. Em um regime liberal as instituições políticas não visam o controle ideológico, mas primordialmente o econômico, com as empresas sendo as figuras fundamentais dentro das instituições, pois como principais interessados no jogo econômico solicitam a participação nas definições das ações políticas. Palavreados ensinados em uma faculdade de economia como taxas, tarifas, déficit, entre outros, tornam-se os conceitos relevantes em um regime liberal. Ou seja, as empresas adotam uma ação estratégica em relação a elas mesmas, preocupadas em melhorar as condições para maximizar seus lucros. E o que ocorre na percepção de quem vive sob o regime liberal? Como essa atuação no Estado tem o objetivo de promover somente ações na esfera da economia e em nenhum momento há propostas de políticas públicas no âmbito ideológico da sociedade, surge a crença que as empresas se preocupam pouco, ou nada, com as ideias e atitudes das pessoas, a não ser como consumidoras. Mas, as empresas se preocupam, e muito!
        Assim, para começar, vou dar uma lambuja para empresas e considerar que o alto índice de desemprego desde o início dos anos 80 e começo do neoliberalismo decorreu de ações que visavam somente uma melhor opção econômica naquele momento e do avanço da tecnologia, ou seja, vou considerar o desemprego como consequência única de fatores estruturais do regime econômico. As acusações de que as empresas utilizaram-se das instituições políticas para promoverem a desmobilização de organizações dos trabalhadores a fim de implementar com facilidade e agilidade os programas econômicos desejados são consistentes, mas, mesmo assim, pode-se argumentar que tais embates ocorrem especificamente na esfera econômica, sem um amplitude ideológica como fora as intervenções realizadas pelo regime comunista, por exemplo. Enfim, não desejo entrar em detalhes sobre o funcionamento de uma política econômica global e sua repercussão ideológica, mas discutir a partir do ponto de vista de uma pessoa que precise trabalhar. Seja um ex-presidiário querendo se “regenerar”, um sem teto, um ex-drogado, enfim, os chamados “párias” da sociedade e não conseguirão nem passar pela porta de entrada de uma empresa. Tatuagem de cadeia, roupas puídas, braços picados, desdentados, os “párias” poderiam até mentir na elaboração de um currículo, mas as marcas de sua vida no corpo fecharão qualquer porta para um emprego que lhes dê a condição de pelo menos sonharem em uma vida luxuosa e sem preocupações materiais. Primeira lição fornecida pelo segurança que controla o fluxo de pessoas numa empresa e que você tem a obrigação de aplicar em sua própria vida e ensinar seus rebentos: nunca leve uma vida marginal, nunca pratique um ato de loucura ou desespero, leve sempre uma vida íntegra caso deseje ter um “bom” e estável emprego. O avanço do desemprego, e a grande quantidade de pessoas dispostas a qualquer coisa por um trabalho não tão humilhante, permitiu ao departamento de recursos humanos das empresas aplicar, e refinar, uma série de técnicas de seleção, controle e policiamento. Conseguir um emprego e conseguir manter-se empregado vem se tornando inviável para uma pessoa que não adquira efetivamente um estilo de vida fundamentado na assiduidade, competitividade, espírito de liderança e pró-atividade, respeito à hierarquia, entre outros palavreados ensinados numa faculdade de administração de empresas. Técnicas de psicologia são aplicadas no processo de seleção e no cotidiano, a fim de selecionar e manter funcionários que possuam efetivamente o espírito da empresa seja ela qual for. As técnicas de policiamento e punição, antes exclusividade da chefia, disseminaram-se, estimuladas pelo departamento de recursos humanos, entre os empregados ávidos em terem um diferencial a fim de se manterem estáveis em eventuais cortes, ou galgarem algum cargo dentro da empresa. Esteja grávida e dirão: “essa mulher não tem comprometimento com a empresa!”. Seja tímido e dirão: “esse rapaz não tem espírito de liderança!”. Tenha um filho doente, falte e dirão: “essa moça está atrapalhando o desempenho da equipe com suas faltas!”. Esteja doente e dirão: “será verdade?”. Dependa de um transporte coletivo ridículo, chegue atrasado ao emprego e dirão: “é irresponsável, fulano mora mais longe e chega no horário todo dia!”. Questione o chefe e dirão: “tem problemas com hierarquia!”. Aparecerá uma psicóloga que lhe dará conselhos, dirá sobre a importância de se portar bem e abaixará sua estima apontando uma causa psicológica para suas más atitudes. Evidentemente que é muito importante “portar-se bem”, mas para poder diminuir atos que sejam onerosos para a empresa, aplicar com eficiência a previsibilidade no âmbito da produção e distribuição do que se vende e aumentar a produtividade. E simplesmente não há como limitar essas estratégias, por possuírem juridicamente o estatuto de pessoas as empresas adquirem uma liberdade similar às pessoas físicas em relação a sua organização e expressão. Não seria um regime liberal que diria a elas como agir. Agora, pense bem, se juridicamente as empresas são tratadas como pessoas, o que impediria as pessoas praticarem uma correlação inversa, ainda mais, quando são estimuladas cotidianamente a agirem visando à maior produtividade possível?  Análogo às empresas, cada pessoa busca ser produtiva, cada palavra e gesto passa a ter um objetivo, a de lhe trazer fortuna ou uma vantagem para atingir essa fortuna. E não se trata só de uma instrumentalização da razão para atingir certos fins, não é uma questão de planejamento frente às contingências, é estar no mundo maximizando todas qualidades, mesmo se elas não tiverem um mínimo valor. Mas igual ao mundo das empresas nem todas estratégias das pessoas são certeiras, nesse caso, o que fazer? Decretar falência? Enfim, é estar no mundo sendo um ganhador ou um perdedor. Alguém duvida que não exista uma visão de mundo por trás destes gestos? Um pragmatismo que não é estimulado pelo Estado, mas elaborado dentro do espaço das empresas e transportado para toda sociedade.
        Como os famosos que sempre mencionam em entrevistas como levou uma vida pobre e dura a fim de criar uma empatia com seu público miserável, o filósofo Pondé também faz questão de sempre mencionar, ou que o entrevistador mencione, seu estágio em um necrotério da Bahia como influência ao seu pensamento trágico, a fim de criar uma empatia com uma classe média que tenta a todo custo se portar como crítica e inteligente. Sobre essa classe média tecerei comentários em outro momento, depois de me medicar com Dramin. Assim, também vou praticar o estratagema de dizer algo da minha vida para criar uma empatia com os trabalhadores perdedores que nem um carro conseguiu comprar ainda. Pratico uma filosofia de trem, precisamente a da linha Luz-Rio Grande da Serra, em São Paulo, e no vaivém constante para trabalhar é comum ver três tipos de pessoas. O primeiro dessa taxicomonia ferroviária são os trapaceiros, mendigos, vendedores de qualquer coisa, doentes, que foram deixados, e assumiram, a marginalidade em relação à vida das empresas. Pegam o trem para o ganha-pão, muitas vezes maior que o salário do funcionário de uma empresa, e perceberam a pouca chance de uma vida melhor dentro de uma, mas sofrem o preconceito por ter abandonado essa visão de mundo, apesar de utilizarem do palavreado das empresas a fim de ludibriar, como os publicitários fazem, quem ouve. O segundo são aqueles que têm um pouco de cérebro, ou já viveram bastante para perceber, ou simplesmente sentem que o dia-a-dia do trabalho não levará a lugar nenhum. Porém, a incapacidade de romper com o único meio de sobrevivência que possui um status de digno, frustra quem não aguenta mais ser ator para fingir que tudo está bem no trabalho. E por fim, a maioria, aqueles que são tão imbecis que não percebem nada e assumem totalmente a visão de mundo das empresas. Só falam do cargo, do companheiro ineficiente, do carro, do celular, e sonham em ser, pelo menos, como um assistente do Roberto Justus. Essa é a grande tragédia de nosso tempo, a produção maciça de mentes lobotomizadas e corpos adestrados para uma vida de trabalho, mas o que fazer? Retire isso da maioria e será como um burro de carga sem carga para puxar. Se ainda houvesse pasto para todos!
          Bem, não terminaria sem citar que o título da postagem é o título de uma música do Mukeka Di Rato cuja letra demonstra de modo irreverente o desgosto com a vida nas empresas. Mas esses capixabas são somente “moleques irresponsáveis”, não são filósofos conceituados de uma universidade ou jornal. Mesmo assim, fica a dica para o Sr. Pondé, levando em conta seus argumentos o título da postagem também seria ótimo para o título de um futuro livro.

sexta-feira, 4 de março de 2011

O meu lugar para debater minhas ideias contra outras ideias minhas!

 
            O tão aclamado avanço do regime democrático em proporcionar o debate de divergentes opiniões na esfera pública não passa de mais uma falácia daqueles que estão no controle da máquina do poder, também conhecida como instituições democráticas. Imaginar, como teorizou Habermas, que um sujeito pode problematizar uma afirmação e ao colocar novas afirmações atingir uma nova aceitação em relação à antiga afirmação, faz crer que o campo do debate seja um campo limpo ao uso daquilo que ele chama de razão comunicativa. É bem verdade que Habermas faz duas ressalvas a realização prática de sua posição teórica. Primeiramente, o sujeito esteja apto a produzir um discurso. Mas quem disse a George W. Bush, por exemplo, que ele estava apto? Em seguida menciona que os interlocutores não podem estar sujeitos a forças que impeçam o uso de sua razão comunicativa, entretanto tal observação não passa de uma comprovação de como filósofos acadêmicos geralmente se perdem na “floresta densa dos conceitos” como um mesmo compatriota de Habermas, que também se perdeu na floresta densa dos conceitos, argumentara décadas antes. A formulação de uma afirmação é livre para qualquer indivíduo, porém, a instituição que controla o debate, julga o conteúdo e se essa afirmação não coloca em dúvida a sua própria legitimidade. Considero isso bem claro, mas Habermas poderia afirmar que o debate democrático é para democratas, alegando que os não democratas, estes sim, utilizariam de forças cuja ação impederia o uso da razão comunicativa. Mas não é somente o uso da força para determinar os limites do debate, no regime democrático existe uma manobra de quem controla o espaço do debate em relação à efetiva participação com intuito de manter, ou aumentar, a própria força.
            Veja o caso da internet, onde o direito não conseguiu normatizar as ações dos indivíduos totalmente, apesar de toda ansiedade para que isso ocorra o mais breve possível. Ainda há críticos ferrenhos dos que controlam a máquina do poder, mas geralmente são “bons” meninos que crêem no chamado debate coletivo e abrem em seus poucos lugares de indignação um espaço para os leitores opinarem sobre seus argumentos apresentados. Em contrapartida, os que clamam a todo instante pela participação da chamada sociedade civil nos debates não crêem tanto nesse debate assim. Nem mencionarei a impossibilidade de argumentar contra as decisões tomadas pelo poder público e jurídico diretamente nas instituições que representam estes poderes, pois essa impossibilidade é demasiado claro. Mas em qual jornal poderíamos atacar um argumento utilizando-se do mesmo espaço que fora articulado, a fim de mostrar como o argumento é falho, sem consistência. O que o jornal nos oferece? Somente um espaço de reclamação na seção de correspondência cuja única utilidade é ser manuseado pelo ombudsman para dar credibilidade ao jornal. Em qual emissora de televisão poderíamos participar ao vivo e contra-argumentar o tempo necessário até o esgotamento das afirmações defendidas pela emissora. Garanto que não sobraria um Arnaldo Jabor! Ao Datena então, só restaria ser mendigo. Mas isso não ocorre e as pequenas críticas filtradas não passam de trampolim para os argumentos dos poderosos serem retrabalhados, revistos e reditos, dando a impressão de irrefutáveis.    
Irrefutabilidade que se esvai nos espaços com pretensões democráticas. A possibilidade de muitos falarem, falarem o quiser e do jeito que quiser traz a esses espaços eco dos discursos institucionalizados, confundindo o leitor e dificultando o entendimento do argumento de quem critica. Os conceitos e teses de quem argumenta são misturados, costurados e redefinidos a todo instante obscurecendo a interpretação, e o pior, como esses “bons” meninos não possuem uma equipe jurídica para defendê-los de ataques pessoais, covardes que se borram de medo de tecer ataques a uma família Mesquita, por exemplo, tornam-se críticos provocadores de quem critica uma instituição ou pessoa conceituada (conceituada geralmente por sua própria instituição ou braços dela). Talvez não seja somente covardia, mas a própria ação de ser uma pessoa crítica faz esses se sentirem como o regime democrático diz que um cidadão tem que ser. No fundo o regime democrático pouco difere dos regimes políticos autoritários, só é possível criticar quem não tem meios para impedir de ser criticado. No regime democrático esses meios não estão centralizados, de certa forma estão pulverizados em várias instituições, e consequentemente, controlados por mais pessoas, mas afirmar que estão bem distribuídos, ou que um dia ficará, não passa de uma grande mentira ou utopia. Já nos espaços que tentam efetivamente por em prática o ideal democrático ocorre um festival de argumentos sem consistência e ataques pessoais que no final atinge o seu verdadeiro objetivo, desqualificar aquele que critica, dando a impressão de que o argumento principal é totalmente falho. E o mais divertido é ver como aqueles que se preocuparam em abrir o debate a todos, no primeiro indício de falta de paciência com ataques de toda espécie, reagirem e serem tachados de antidemocráticos e até fascistas. Realmente! Democráticos são aqueles que controlam as instituições democráticas! Esses “bons” meninos são somente bobos que resolveram argumentar com aquilo que a democracia produz de melhor, gente sem cultura e com limitada capacidade argumentativa e interpretativa, mas com dois amplos direitos, além do óbvio direito de consumir, a de falar qualquer merda sem consequência ao seu status de cidadão. Os que controlam o regime democrático têm ideia de suas crias e não retira o status de cidadão de quem não decide porcaria nenhuma, pois sabe da utilidade estratégica desses nas manobras do jogo democrático, porém, limita a todo instante a participação efetiva, evitando o risco de desqualificação do próprio discurso por cidadões que realmente se assemelham ao Homer Simpson. Ou será que alguém considera que esta alcunha, dada pelo William Bonner ao seu telespectador, foi somente uma brincadeira?